Projeto vai prever diferentes situações e níveis de adoção do gás natural como combustível, desenhando parâmetros que podem ajudar a balizar as metas de redução de emissões do País.
Formar uma inteligência de modelagem energética e climática em São Paulo (particularmente na Universidade de São Paulo) e simular cenários de redução de emissões relativas ao uso do gás natural em substituição a outros energéticos são os dois principais objetivos do projeto Brazilian Greenhouse Gas Inventory and Scenarios for Emissions Reductions Related to Natural Gas, um dos 28 projetos já iniciados pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural (“Research Centre for Gas Innovation” – RCGI – www.usp.br/rcgi, na sigla em inglês).
Recém-instituído como resultado de uma chamada lançada pela FAPESP e a BG Brasil, o Centro é orientado por três linhas complementares de pesquisa: Engenharia, Físico-Química e Política Energética e Economia. “A ideia deste projeto é estudar cenários para a matriz energética nacional, principalmente com relação aos combustíveis fósseis e particularmente com enfoque no gás natural”, explica Oswaldo Lucon, engenheiro, advogado e professor colaborador no IEE – Instituto de Energia e Meio Ambiente da USP.
Segundo ele, a iniciativa tem como pano de fundo o contexto das discussões sobre redução de emissões e promoção de matriz energética mais limpa. “O Brasil assumiu compromissos de redução de emissões na última Conferência do Clima, em Paris, no ano passado. Nos comprometemos a diminuir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, e em 43% até 2030, tendo 2005 como ano-base. Se o gás natural substituir outros energéticos mais carbono intensivos, como o diesel por exemplo, poderemos de fato reduzir emissões.”
Um dos coordenadores acadêmicos do projeto, Ricardo Esparta, explica que os combustíveis fósseis sólidos e líquidos emitem mais porque suas cadeias de carbono são maiores. “As emissões de CO2 por unidade de energia gerada em um combustível gasoso são menores que em um líquido ou sólido.”
No Brasil, as projeções para a expansão da demanda e da oferta de diversos energéticos são apresentadas no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), publicado pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Segundo o último plano, a produção de gás natural deverá passar de 87,4 milhões de metros cúbicos diários (m³/dia) em 2014 para 171,7 milhões de m³/dia em 2024.
“Queremos é definir alguns algoritmos para emular e ajudar a validar o que está no papel. O PDE é muito importante porque, por força de decreto, representa oficialmente o plano setorial energético de mitigação de emissões de gases de efeito estufa no país. Uma vez que o PDE é baseado em premissas, há o risco de premissas pouco testadas levarem a conclusões distorcidas”, resume Lucon.
“Pretendemos utilizar os relatórios da EPE como base e simular cenários com outras premissas e narrativas. Imaginemos um exemplo: o que aconteceria se os ônibus urbanos a diesel fossem substituídos por ônibus a gás natural? Pois bem, nossa ideia é construir vários desses cenários”, complementa Esparta.
“Temos de prever diferentes situações se estamos propondo metas e compromissos climáticos para 2025 e 2030. Por exemplo: com o aumento da população, o quanto isso demanda de gás para gerar eletricidade, para uso industrial, para fazer rodar os veículos, para os edifícios? Se houver alguma mudança tecnológica, o que pode acontecer?”, adianta Lucon.
O projeto tem cronograma inicial de dois anos e uma equipe inicial composta por quatro pesquisadores e dois colaboradores envolvidos.