Baseado em dados do Global CCS Institute, análise também aponta quais países estão na liderança deste processo.
No mundo todo existem hoje 174 instalações ou projetos de CCS (Carbon Capture and Storage). Desse total, 51 estão em operação; 18 comissionadas, mas ainda não operando; 52 prontas; e 11 em construção. Dos projetos, são 42, sendo 23 em estágio avançado; 18 em fase inicial; e um em planejamento. Os dados, compilados do Global CCS Institute, mostram que as tecnologias de CCS estão definitivamente no radar das empresas que exploram petróleo e gás.
“A porcentagem de instalações de CCS operando no mundo é de apenas 11%, o restante está em construção ou em desenvolvimento de projeto, o que indica uma tendência de aumento dessa atividades nas próximas décadas”, afirma o engenheiro Romario de Carvalho Nunes, supervisor de Manutenção e Inspeção Submarina da Petrobras, que está realizando seu mestrado no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), sob orientação da profª Hirdan katarina de Medeiros Costa. Nunes é pesquisador do projeto 42A do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI).
Ao fazer este levantamento, associado com estudos de outros autores, Nunes deu o pontapé inicial em sua pesquisa pela qual pretende mostrar a importância de monitorar a integridade dessas instalações com métricas e legislação específicas. Em seu primeiro artigo, publicado no International Journal of Science and Research, ele reuniu dados que reforçam esta necessidade.
Estocar carbono na crosta terrestre é uma proposta que surgiu na década de 1970, mas que só ganhou corpo a partir de 1990. Além de possibilitar a reinjeção de gases de efeito estufa (GEEs) no solo, a tecnologia está associada à estratégia de aumentar a produtividade em poços maduros ou naqueles que precisam de mais pressão. “O fato é que a CCS é importante para as estratégias de diminuição de GEEs, como já apontava o relatório de 2014 do IPCC [Intergovernmental Panel on Climate Change]. Até 2030, cerca de 80% das fontes de energia primárias ainda estarão associadas com combustíveis fósseis, segundo estimativas da International Energu Agency”, diz Nunes.
Ou seja, a sustentabilidade do setor de petróleo e gás depende da CCS, e as empresas já se deram conta disso. “As 18 maiores instalações de CCS em operação hoje no mundo capturam cerca de 37 milhões de toneladas por ano, o que equivale às emissões de 8 milhões de carros”, exemplifica Nunes.
Top 8 – Ainda segundo os dados que compilou do Global CCS Institute, é possível identificar quais países estão na liderança deste movimento, com plantas operando ou projetos: Estado Unidos (50), China (28), Canadá e Reino Unidos (14, cada um), Austrália (11), Japão, Noruega e Holanda (7, cada um). E o Brasil? “Por enquanto, temos uma instalação de CCS em larga escala, na Bacia de Santos, mas essa tecnologia deverá ser mais adotada pela Petrobras. A CCS será essencial quando atingirmos o ápice da exploração de petróleo na camada Pré-Sal, com produção diária de 5 milhões de barris”, afirma.
Ele destaca também outro ponto importante em favor da adoção de CCS aqui. “No geral, a concentração de CO2 encontrada nos hidrocarbonetos do Pré-Sal fica entre 8% e 12%, quando a média mundial é de 5%. Ou seja, sem uma destinação adequada do CO2, iremos emitir mais.”
Segundo o pesquisador, a capacidade global de estocagem de CO2 ainda não está totalmente clara. No Brasil, um estudo de 2016, também citado por Nunes em seu artigo, mostra que das cinco bacias com maior potencial de estocagem de CO2 (Paraná, Campos, Santos, Potiguar e Recôncavo) duas estão na região do Pré-Sal. Campos, que representa praticamente 80% da produção nacional, e Santos, que deverá ser a principal produtora de hidrocarbonetos a partir de 2025. “Por potencial de estocagem, entende-se: produção ativa de hidrocarbonetos, capacidade teórica para armazenar CO2, infraestrutura de transporte, entre outros”, explica.
Outro estudo, de 2014, aponta que a Bacia de Campos tem em tese potencial de estocagem de CO2 estimado em 950 Mt, capacidade equivalente a 3,5 anos do total de emissão das fontes estacionárias do País.
Ao compilar os dados do Global CCS Institute, cujas informações estão concentradas individualmente nas instalações, Nunes obteve um cenário abrangente da adoção de CSS no mundo. “Quis chamar a atenção para a importância desta tecnologia e seu uso cada vez mais intenso”, diz. “Uma forma de mostrar que será preciso normatizar este mercado o quanto antes”, acrescenta.