Análise de soros de pacientes e simulações sobre epidemia e economia fazem parte das iniciativas
Pesquisadores do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) estão contribuindo para o combate à COVID-19 no Brasil, coordenando projetos que vão desde a análise de soros de pacientes para tentar prever o agravamento da doença, até simulações sobre epidemia e economia para encontrar a taxa ideal de isolamento social.
O primeiro projeto é coordenado pelo pesquisador Claudio Augusto Oller, vice-diretor do Programa de Físico/Química do RCGI. O grupo irá estudar a hipótese de que o novo coronavírus induz alterações moleculares características, que podem ser detectadas nos fluidos biológicos (soros) dos pacientes. A expectativa é que a identificação dessas alterações ajude a tratar casos graves precocemente.
Os cientistas irão receber amostras de soros de pacientes de COVID-19 de dois hospitais, além de informações sobre os seus estados clínicos. O material será analisado em laboratório e comparado com grupos controle, utilizando a técnica de espectrometria de massas – para medir a massa de cada composto presente nos soros (metabólitos e proteínas). A princípio, o estudo será realizado com 80 pacientes.
“No início da infecção, o organismo já começa a combater o vírus, resultando em uma série de reações químicas e biológicas que produzem compostos chamados metabólitos. Faremos uma relação estatística entre o estado clínico dos pacientes e os metabólitos encontrados no soro, para tentar identificar quem irá precisar ou não de internação antes do quadro piorar”, explica Oller.
Taxa ideal de isolamento – Já o pesquisador Emílio Carlos Nelli Silva, especialista em métodos de otimização e diretor do Programa de Engenharia do RCGI, irá coordenar a simulação Epidemia-Economia. Segundo ele, o objetivo da pesquisa é encontrar a taxa ótima de isolamento, de modo a preservar a saúde pública e combater o desemprego.
“Ao confinar demais, você prejudica a economia e gera desemprego. Mas se não confinar o suficiente, a epidemia se propaga e as UTIs ficam lotadas”, diz Silva. Para alcançar o objetivo, o projeto está sendo realizado por uma equipe multidisciplinar. A professora Celma de Oliveira Ribeiro, também pesquisadora do RCGI, é especialista em modelagem de sistemas econômicos e está analisando as taxas de emprego e desemprego mediante a taxa de isolamento.
“Existem modelos econômicos relativos a investimentos, ao crescimento do PIB ou à redução do consumo, por exemplo, em função de diferentes fatores. Esses modelos são resolvidos através de técnicas de engenharia e modelagem matemática. Primeiramente, nosso intuito é avaliar o que acontece nas forças de trabalho conforme a pandemia avança. Se o desemprego aumenta muito, isso diminui a renda do país”, afirma a pesquisadora.
As análises começaram há cerca de um mês e estão sendo feitas semanalmente – a taxa ideal de isolamento varia com o tempo, de acordo com a disseminação da doença. Para avaliar o cenário da epidemia de COVID-19, a equipe conta com o professor Américo Cunha, do Departamento de Matemática Aplicada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), especialista em modelagem de epidemias. Participam também os professores Julio Meneghini, diretor científico do RCGI e especialista em métodos de simulação numérica, e Oswaldo Costa, especialista em Técnicas de Controle.