Foram avaliados os impactos da substituição do diesel pelo gás natural na frota de ônibus de São Paulo; artigo saiu em revista com classificação A1 da Capes.
Uma equipe liderada pela professora Dominique Mouette publicou recentemente parte dos resultados da pesquisa feita no âmbito Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) na revista Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change, classificada pela Capes como A1. O artigo foi ao ar no dia 12 de dezembro e analisa os benefícios ambientais da substituição do diesel pelo gás natural na frota de ônibus da capital paulista (cerca de 15 mil ônibus). No RCGI, Mouette coordena o projeto “Análise integrada da sustentabilidade do Gás Natural como combustível para transporte em veículos pesados: o corredor azul paulista”.
A metodologia do paper traça quatro diferentes cenários para o uso do gás natural: um cenário referência (sem substituição pelo gás), um otimista, um moderado e um conservador, estipulados de acordo com a porcentagem de substituição dos veículos a diesel pelos veículos a gás. Entre as conclusões, descobriu-se que, no cenário otimista, poderiam ser evitadas emissões de 1.375 milhões de toneladas de CO2 e 584 toneladas de material particulado PM10 ao longo de 20 anos.
Na cidade de São Paulo, as emissões do setor de transportes contabilizaram 9.2 bilhões de CO2 equivalente em 2009, segundo dados da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (2012). “O gás natural emite menos CO2 e não emite material particulado, como o diesel. Se qualquer um dos nossos cenários se materializar, conseguiremos um ganho de ao menos 2% sobre esses números”, adianta Mouette, ressaltando que é preciso pensar a substituição estrategicamente. “Imagino que bairros mais populosos, onde a emissão de particulados vai atingir mais pessoas, deveriam ser prioritários. Ou ainda bairros onde exista riqueza de patrimônio arquitetônico, uma vez que o material particulado se deposita sobre as edificações e as danifica. Tudo isso precisa ser pensado”, explora a professora.
Metodologia –Todos os cenários foram simulados para um período de médio prazo (10 anos), e de longo prazo, (20 anos), entre os anos de 2016 e 2035. “Por lei municipal, os ônibus quem completam dez anos têm de ser tirados de uso. Criamos os cenários de acordo com a porcentagem de ônibus substituídos: assim, o conservador prevê que 20% de todos os veículos novos usem gás natural em vez de diesel. No cenário moderado, 30% dos veículos novos seriam a gás e, no otimista, 50%. Já o cenário referência é uma projeção da frota paulistana entre 2015 e 2035 assumindo-se que, nesse período, nenhum ônibus a gás tenha sido adotado”, explica Thiago Brito, um dos autores do artigo, assinado ainda por Rodrigo Galbieri, Hirdan Katarina de Medeiros Costa, Edmilson Moutinho dos Santos, Murilo Tadeu Werneck Fagá e Dominique Mouette.
A análise é baseada no cálculo do consumo de combustíveis e de emissões de poluentes e gases estufa (GEEs). O cálculo do consumo de combustíveis é feito levando-se em conta características da frota, como sua idade média, a distância anual percorrida pelos ônibus e a média de consumo de combustíveis de cada veículo.
“Nossa grande contribuição é o desenvolvimento de uma metodologia que pode ser replicada em casos de estratégias específicas de mitigação de emissões do setor dos transportes. Os resultados mostraram melhoras nas emissões com a substituição dos energéticos, mas sabemos que isso não será possível enquanto não houver revisão da Política Municipal de Mudanças Climáticas”, completa Brito.
Mudança na lei – Ao ser aprovada, em 2009, a Política Municipal de Mudanças Climáticas (PMMC) baniu o gás natural da lista de possibilidades menos poluentes ao diesel, ao estipular que os programas, contratos e autorizações municipais de transportes públicos devem considerar redução progressiva do uso de combustíveis fósseis.
“O gás natural é considerado um combustível de transição de uma economia com base em fósseis para uma com base em renováveis. Uma de nossas sugestões ao final do artigo é que a lei tem de permitir o uso do gás natural, pois há benefícios comprovados na substituição do diesel pelo gás”, afirma Mouette. De acordo com a OMS, mais de 7 milhões de pessoas no mundo morrem anualmente por causa da contaminação do ar.