Universidades de Princeton, nos EUA e de Queensland, na Austrália, serão parceiras da instituição brasileira; propostas focam a transição energética.
Duas importantes colaborações entre o Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI – processo FAPESP 2014/50279-4) e universidades do exterior, com foco na transição energética, prometem render bons frutos para as instituições participantes neste ano que começa. A primeira é uma colaboração com a Universidade de Princeton, que foi aprovada em um edital do Programa Institucional de Internacionalização (PRINT), uma parceira da USP e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), regida pela AUCANI. A segunda é um projeto junto à Universidade de Queensland (Austrália), contemplado pelo programa SPRINT (São Paulo Researchers in International Collaboration), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
“São propostas que comprovam o quanto estamos conseguindo nos internacionalizar, e que não são fundamentalmente técnicas, no tocante à abordagem da temática tratada. Elas focam a transição energética como um processo mais amplo, multidisciplinar, o que é um mérito do RCGI, pois multidisciplinaridade sempre foi uma de nossas principais características”, resume a diretora de Liderança e Recursos Humanos do RCGI, Karen Mascarenhas.
A primeira iniciativa de cooperação tem como responsável científica, pelo RCGI, a professora Suani Coelho, que há décadas se dedica a estudar o papel da biomassa na matriz energética brasileira. Neste caso, a parceria selada é com a Universidade de Princeton (EUA), tendo como representante o professor Eric Larson, que esteve no Brasil em outubro último para a Energy Transition Research & Innovation – ETRI, conferência internacional organizada pelo RCGI anualmente em São Paulo, sendo esta a primeira atividade desta parceria.
“Conheço o professor Eric Larson há mais de 20 anos. No ano passado, quando a AUCANI abriu edital para uma proposta de cooperação com Princeton, a primeira pessoa que me veio à cabeça foi o Larson. Fizemos, então, uma reunião por skype sobre a possível participação do RCGI em um projeto já em andamento, coordenado por ele, o Rapid Switch. Este projeto foi apresentado na ETRI, no ano passado. Assim, partimos do edital da AUCANI para viabilizar e pensar em uma proposta ampla de cooperação”, resume Suani.
O Rapid Switch estuda basicamente como acelerar a transição energética em diferentes partes do mundo, bem como os gargalos, as barreiras e as consequências não intencionais que podem emergir em diferentes setores e regiões do globo no tocante à transição energética. Atualmente, além do EUA, fazem parte do projeto Austrália, China e Índia. O Brasil está prestes a entrar no projeto por meio da parceria viabilizada pelo RCGI.
“Estamos trabalhando na proposição e em março encontraremos com nossos pares americanos das áreas correlatas do projeto. Com isso, teremos o primeiro draft de uma proposta importante para o Brasil. Nosso foco é o que se pode fazer, do ponto de vista da matriz energética, para cumprir as metas do Acordo de Paris. Vamos levar em conta a Contribuição Nacionalmente Determinada brasileira, a chamada NDC. Também vamos abordar a captura de carbono como uma opção mais rápida para a transição energética” revela a professora Suani.
Além da professora Suani Coelho, a equipe brasileira conta com Julio Meneghini (RCGI/Poli-USP), Alexandre Szklo (COPPE/UFRJ) e Celma Oliveira (RCGI/Poli-USP), além de Karen Mascarenhas e do pesquisador Marcelo Moreira, da Agroícone (grupo de pesquisa privado voltado para as questões de agricultura e mudança de uso da terra), entre outros.
A proposta de longo termo envolverá várias instituições de pesquisa de renome em suas especialidades, inclusive de outros estados, para abarcar uma visão regional e nacional que deverá gerar, como resultado, modelos e cenários futuros considerando diferentes tecnologias, além de propostas de políticas públicas para a condução da transição energética no país.
O segundo projeto agraciado, desta vez pelo SPRINT/FAPESP, tem como parceiros a Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia da Informação da Universidade de Queensland (Austrália), o RCGI e o projeto “Transições na história da energia: desenvolvimento e novas perspectivas sobre o gás natural no Brasil” (FAPESP 2017/18208-8).
Destaca-se que a representante da Universidade de Queensland, a professora Peta Ashworth, esteve duas vezes no Brasil e proferiu palestras no RCGI, uma delas sobre percepção pública acerca de projetos de Carbon Capture and Storage (CCS) em 2018, e outra em 2019, sobre o tema transição energética.
“Essas visitas iniciais identificaram uma série de possíveis sinergias entre as duas instituições em torno do tema transição energética, que demanda investigação mais aprofundada. O financiamento é uma oportunidade para amalgamar a colaboração em pesquisa e as chances de uma parceria entre as duas instituições”, explica a pesquisadora Drielli Peyerl.
Como parte das atividades envolvidas neste processo, Peta estará novamente no Brasil entre setembro e outubro como key note speaker da próxima ETRI. Com ela também virá o professor Andrew Garnett, diretor do Centre for Natural Gas, também da Universidade de Queensland. Em contrapartida, parte da equipe brasileira irá à Austrália ministrar workshops sobre o tema, neste ano, aprofundando as discussões em que figura a questão do papel do gás natural e de CCS na transição energética, tanto na Austrália quanto no Brasil.
Desta maneira, as parcerias nacionais e internacionais, estabelecidas por meio da conquista dos recursos nesses dois processos, irão viabilizar uma abordagem complementar e sinérgica das ações para possíveis trajetórias da transição energética brasileira. Ambos os esforços tendem a se complementar e gerar um projeto final mais amplo e robusto. Além disso, o intuito das propostas é gerar publicações conjuntas entre as universidades, reafirmando o compromisso de internacionalização proposto pela USP, AUCANI, FAPESP e CAPES.