Objetivo é fazer um road map para implementar rota de transporte de cargas com caminhões movidos a gás natural; emissões podem ser reduzidas em até 20% com relação às do diesel.
O uso do gás natural para mover veículos pesados (caminhões e ônibus) já é uma realidade na Europa, onde há mais de duas décadas vêm sendo desenvolvidos os chamados corredores azuis – rotas que garantem autonomia para abastecimento de veículos movidos a GNC (gás natural veicular comprimido) ou GNL (gás liquefeito). O azul do nome é uma referência à cor da chama do gás quando queimado. No Brasil, um grupo de cientistas do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural (“Research Centre for Gas Innovation” – RCGI, na sigla em inglês) quer fazer um road map para a implantação de um corredor azul na área de influência ao redor das cidades de Campinas e São Paulo (SP).
“Primeiro, faremos um levantamento das tecnologias que temos para rodar com o gás natural e começaremos a trabalhar o conceito teórico do que seria um combustível sustentável em um cenário como o atual”, explica a professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Dominique Mouette, coordenadora do projeto intitulado Análise de Sustentabilidade Integrada do Gás Natural como Combustível em veículos pesados – o Corredor Azul Paulista.
“Um exemplo: o etanol é considerado um combustível que emite poucos gases de efeito estufa (GEEs). Por outro lado, precisamos questionar se, no contexto atual da importância crescente do uso da terra para a produção de alimentos, o etanol é realmente mais sustentável que o gás natural.” Ela ressalta que a adoção ou não de determinada tecnologia depende do contexto em que será aplicada. “O ideal é que tenhamos certa diversidade de fontes energéticas.”
O projeto utilizou o conceito de corredores azuis apresentado em um trabalho exploratório realizado em conjunto pelo doutorando Thiago Brito, com Mouette e outros três colegas, que simulava a implantação do corredor São Paulo-Campinas. “Partimos da pergunta: se São Paulo e Campinas tivessem infraestrutura eficiente para abastecer veículos pesados a gás, qual seria a área que esses veículos poderiam servir com autonomia?”, explica Brito.
“Usamos como base um estudo que calculava a origem-destino dos veículos. Tomamos os veículos que saíam de uma cidade dentro desse corredor e iam para outra, no mesmo corredor. Calculamos a distância entre as cidades e quanto diesel foi gasto pelos veículos, depois convertemos para gás natural. Então calculamos as emissões, tanto de GEEs quanto de poluentes. Concluímos que a frota de caminhões que circula na região delineada pelo corredor azul proposto poderia emitir 20% a menos (690 toneladas) de gases de efeito estufa por dia, em caso de substituição completa pelo GNC.”
Brito explica que o gás natural emite mais GEEs, mas como ele emite menos CO2, o impacto das emissões do gás natural é menor que o das emissões do diesel, em CO2 equivalente. “O gás natural também emite menos poluentes como monóxido de carbono, enxofre e material particulado.”
Road Map – A segunda etapa do projeto é fazer uma avaliação econômica de como implantar o corredor no Estado de São Paulo, que toma uma área correspondente a um raio de 200 km partindo das cidades de São Paulo e de Campinas. “Existem ao menos três custos para considerar: o do km rodado, o custo da tecnologia e o custo da infraestrutura”, afirma Dominique, lembrando que, hoje, os poucos caminhões movidos a gás que circulam no País são importados.
Com base nessas informações, a equipe, que é composta também pelo biólogo Rodrigo Galbieri, irá fazer um road map com as coordenadas para a implantação do corredor azul. “Como fazer? Quanto custa? Onde fazer? Ele incluirá ainda o levantamento financeiro das vantagens da substituição do diesel pelo gás natural. O preço do veículo não varia tanto, mas é preciso construir infraestrutura. O gás, em geral, é mais barato que o diesel, exige menos manutenção do motor, e a quantidade de energia gerada por unidade é equivalente à do diesel”, diz Brito. De acordo com a Comgás, o GNV (gás natural veicular) rende 25% a mais que a gasolina e 78% a mais que o etanol. Um carro de passeio que faz, em média, 10 km com um litro de gasolina e 7 km com um litro de etanol, percorrerá 12,5 km com um metro cúbico de GNV.