Em workshop realizado na Poli, Júlio Meneghini afirma que o uso inteligente do gás natural tornará matriz brasileira mais limpa e evitará competição com as renováveis.
O coordenador acadêmico do RCGI – FAPESP-SHELL Research Centre for Gas Innovation (Centro de Pesquisa em Inovação em Gás), Júlio Meneghini, foi um dos palestrantes do Workshop Natural Gas & Future Energy System, realizado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) no último dia 11. O evento, que reuniu representantes da academia, do governo e da indústria, teve como pano de fundo a crescente importância do gás natural na matriz energética brasileira e paulista, e focou as tecnologias que vêm sendo investigadas e desenvolvidas para seu aproveitamento racional e sustentável.
“O gás natural é um tema absolutamente fundamental para o Estado de São Paulo”, afirmou o secretário estadual de Energia e Mineração de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, na abertura do workshop. Além do secretário e do diretor do RCGI, a mesa de abertura do workshop foi composta pelo presidente da Mitsui & Co. no Brasil, Shinji Tsuchiya; o gerente geral da Petrobras Santos, Osvaldo Kawakami; o diretor da Escola Politécnica, José Roberto Castilho Piqueira; e o professor Fernando Menezes (Poli-USP), que representou o reitor da USP, Marco Antonio Zago.
Meneghini, que apresentou o RCGI para os demais participantes, ressaltou o desafio representado pelas mudanças climáticas e o papel do gás natural nesse contexto, não só como combustível de transição, mas como matéria prima a partir da qual se consegue obter outros insumos. “Estamos empenhados em dar conta desse grande desafio que é conciliar a produção de energia com o mínimo emissões de CO2. Nosso foco é usar o gás natural não para substituir o renovável, mas sim o carvão, que é um problema seríssimo para a emissão de CO2. Se conseguirmos usar o gás natural com inteligência, conseguiremos tornar a matriz brasileira mais limpa que ela já é, sem competir como etanol”, lembra Meneghini, ressaltando que o gás representa cerca de 14% da matriz energética brasileira. “De 2003 a 2012, o etanol cresceu por volta de 10% e o gás natural quase 16% na nossa matriz. Carvão vegetal e lenha diminuíram.”
O engenheiro defende um approach mais amplo acerca dos usos e destinações do gás natural. “Nós temos de pensar de forma integrada, não apenas no gás natural como energético, mas nos produtos que ele pode gerar. Como, por exemplo, insumos para a indústria química e petroquímica; ou matéria prima para ser transformada em polímeros, seja por via biológica ou química.”
Meneghini citou vários dos 29 projetos do RCGI e destacou a parceria com a Fapesp e a Shell, que dão suporte financeiro ao Centro. “No início, pensávamos em focar as pesquisas apenas em gás natural, mas ampliamos a visão, passando a considerar estrategicamente o biogás e, é claro, o hidrogênio. Hoje, o hidrogênio é essencialmente produzido a partir do gás natural. Califórnia, Alemanha e Japão estão liderando esse processo no mundo. Fazendo a reforma do metano para produzir hidrogênio, com a captura do CO2 localmente, é possível gerar um combustível renovável a partir de um fóssil, mas com pegada de carbono zero.”
Ele também destacou a importância do biogás em um estado como São Paulo, grande produtor de cana-de-açúcar. Um dos subprodutos da destilação do etanol é a vinhaça, produzida em grandes quantidades. Estima-se que sejam obtidos de 8 a 12 litros de vinhaça por litro de etanol destilado. “Produzindo biogás da vinhaça, seria possível substituir o diesel usado na própria indústria da cana, durante boa parte do ano. Haveria uma diminuição enorme nas emissões de CO2 para a atmosfera. É claro que há grandes desafios: é preciso purificar o biogás, o que envolve tecnologia de ponta, que a indústria paulista poderia oferecer. Nós estamos investigando separadores supersônicos no RCGI, uma tecnologia que, uma vez desenvolvida, pode ser aplicada a essa tarefa.”
Meneghini afirmou que, nos próximos meses, espera colocar outras instituições entre os parceiros do RCGI. “A parceria com a Shell é muito promissora e está indo muito bem. A Shell quer nos ajudar a transformar o estado de São Paulo em um hub de produção de conhecimento na área de óleo e gás, bem como na área de energia, e está cogitando um aditivo após o término do primeiro ano do projeto, o que seria excelente para ambas as partes. Mas seria interessante poder contar, também, com instituições como a Mtsui, grande distribuidora de gás no Brasil, a Mitsubishi Oil and Gas, a Petrobras, e outras instituições de pesquisa, tanto do Estado quanto de fora dele.”